Eu te perdi. Hoje acordei, olhei pra cima, quase sem me movimentar, para não perturbar nosso abraço, e vi teus olhos, quase cerrados, buscando por qualquer coisa além do que tínhamos. Ali, eu vi. Não adiantavam as lembranças e todo o carinho que eu te tinha guardado. Aquela noite linda, a luz de velas e o cobertor no chão, não importavam mais. Quando se perde, não faz sentido assim mesmo – um dos dois pode ter todo o amor do mundo pra dar, mas só poderá compartlihá-lo se o outro quiser receber. Tu não querias mais, e era isso.
Eu podia chorar, gritar, te bater e dizer coisas horríveis, o que importaria? Tu podias não ter forças ou vontade para dizer, mas não precisava. Tua falta de presença, estando de corpo colado ao meu, denunciou. Entre nós não havia mais nada além das tantas coisas que ficarão incompreendidas e confusas. Porque é assim mesmo, rapaz, não faz sentido e não tem explicação. Eu sei disso, porque já senti. Chega um momento que acontece um não sei o que e simplesmente a gente desiste antes do outro.
E como dizer? Olha, não é por nada, não, mas eu tô afim de amar outra pessoa. Tava legal, curti, e tal, mas não rola mais. POR QUE? Tu sabes, eu pediria duzentas justificativas, todas por escrito, assinadas e autenticadas. É por isso que, em vez de tomar coragem e me dizer tudo isso, simplesmente te levantas, checando se eu estou acordada (bobo, é claro que estou), e de fininho, sapato na mão e sentimentos no ar, desaparece da minha vida. Eu sei teu endereço e teu sobrenome, mas tu sabes que eu não iria atrás dessas coisas depois disso, e talvez assim seja melhor. Sair da minha vida sem gritos, lágrimas (quantas lágrimas…) e mais lembranças. Melhor ficar na memória aquele último abraço no qual eu dormia, tão tranquila e protegida pelo teu calor.
Pena que só para ti ficará esta como a última memória. Deste ato de bravura, para mim ficou o aperto de te sentir partir e não poder fazer mais nada. As lágrimas, os gritos, se perpetuam por aqui. O amor que tu tinhas garantido e todos os morros que subi pela gente. A decisão sempre foi tua, e sabes o porquê? Eu posso ter perdido alguém que não me amava, mas você perdeu aquela que tanto te amou de forma verdadeira. Eu estive entregue a nós, desde o início e sempre, com toda a coragem do mundo.